top of page
  • Foto do escritorBárbara

10° Dia: Passeio, Um Nome e Festa em Família - Nas Montanhas de Sauerland

Atualizado: 24 de ago. de 2021


Epscheid, 16/06/2018 - Sábado


Acordei antes de todos, Gilson ainda dormia profundamente. Fiquei passeando pelo quarto. Olhei a paisagem pela janela, dia estava nublado, ventando. Lá fora uma pessoa passeava com seu cão e outra andando a cavalo na estrada asfaltada. Voltei pra cama e fiquei olhando as fotos armazenadas no celular e no Google Fotos, percebi que precisaria liberar espaço de armazenamento. Deletei as fotos do celular, confiando no Google Fotos, mas esqueci de desabilitar a sincronização e acabei perdendo todos os registros da viagem feitos até então!


Nãããããõooo!!!!! Não acreditei no que fiz! Palpitação!!!! Calma! Sobraram aquelas imagens e videos que haviam sido compartilhadas pelo Whatsapp, com resolução baixa, é verdade, mas estavam ali...! Caramba, o quê a falta de um café faz...! Então pela primeira vez eu teria que dar graças ao Gilson por gastar meus dados do pacote de internet com o aplicativo... Ok, sendo assim, configurei o celular para não repetir o erro. Pronto!


Gilson estava adorando Epscheid, mas também estava ansioso para passear de moto. Nosso compromisso do dia era o encontro dos primos em Bönen. Apenas as três irmãs e nós dois iriamos ao encontro. Combinamos então sairmos todos juntos de carro às 11h para chegarmos pontualmente na hora do almoço. Então, até lá, estávamos livres para passear de moto por aquela belíssima região.



Clique sobre a imagem para abrir ou sobre as setas para avançar


O passeio de moto seria o curto trajeto até a represa do rio Glör (Glörtalsperre), contruída em 1903, um lugar muito procurado para prática de esportes e lazer. Descemos a rua principal da minúscula Epschied até Breckerfeld. Contornamos a discreta muralha medieval do centro histórico e seguimos em direção à área rural. Ali começa a descida para o vale do rio Glör, uma linda estrada sem trânsito e com asfalto impecável através de área de proteção ambiental. Saindo da estrada municipal, começa a subida em curvas pelo bosque que circunda o lago represado. Deixamos a moto estacionada em frente ao acesso do coroamento da represa que é aberto a pedestres. No meio do percurso encontramos dois casais que se interessaram por nós e aproveitei para perguntar por que a represa estava seca. Era o casal de pais que visitava a filha e o genro. Ele falava um pouco de espanhol e ficou animado com a oportunidade de praticar, contou que a represa está passando por obras de manutenção, com expectativa de demorar porque estavam com dificuldade de arrecadar os recursos necessários, e que após o esvaziamento do lago encontraram muitos objetos estranhos no fundo, entre eles três malotes de banco cheios de dinheiro, que teriam sido arremessados pelos assaltantes a um carro forte logo após terem sido surpreendidos pela policia. A conversa foi interrompida porque o genro queria começar o trekking e eles seguiram contornando o "lago" a pé.


Nós caminhamos até o final do coroamento e andamos um trecho da trilha no bosque. Sentados num banco às margens do "lago", dava para ver uma construção branca na outra margem, pouco acima de onde a moto estava estacionada. Era um ponto de encontro de motociclistas, um Biergarten na parte de baixo, e mais acima um restaurante. Fomos até lá e pedimos dois picolés e uma cerveja sem álcool. A movimentação lá dentro indicava a preparação para receber os clientes que não tardariam a chegar. Do terraço sombreado por uma enorme árvore ouvimos o ronco de uma caravana de motos subindo na direção do restaurante. As motos eram fantásticas, de várias fábricas, todas de modelos novos e potentes. Havia uma que era peça de coleção. Todas super conservadas e aparatadas, assim como os pilotos e garupas de meia idade, que pareciam recém-saídos de lojas de artigos para motociclistas. Gilson foi ver as motos de perto, mas sem falar alemão não conseguiu conversar com os colegas e voltou um pouco frustrado. Parte da turma subiu onde estávamos para beber algo, mas não demoraram, estavam fazendo um passeio em grupo e a programação era continuar adiante.



Clique sobre a imagem para abrir ou sobre as setas para avançar

Resolvemos nós também seguir, refazendo o mesmo trajeto da vinda. Mas dessa vez paramos no centro histórico de Breckerfeld, para conhecer o minúsculo núcleo muralhado da antiga cidade hanseática, que abriga a igreja gótica de São Tiago, construída entre 1390 e 1430, e sua linda praça cercada pelas casas antigas em alvenaria de pedras de um lado e enxaimel do outro. A igreja estava fechada, pena, disseram que possui um lindo retábulo em talha de madeira datado de mil setecentos e poucos. Breckerfeld é uma pequena cidade de pouco mais de 800 habitantes. As ruas são bem calmas, com Biergarten, confeitarias, cabeleireiro, pequenos comércio e serviços. A maior parte da população trabalha nas proximidades de Hagen e os estudantes precisam se deslocar até as cidades próximas para frequentar a escola, isso porque fecharam várias escolas locais pequenas para enxugar a máquina do Estado. Mas a população de queixa disso, porque embora as cidades grandes cresçam e se beneficiem, as pequenas estão perdendo seus habitantes e encolhendo em atividade e vida. É uma pena... Deixamos a moto estacionada na rua principal e ficamos flanando pelos becos medievais, alguns tão estreitos que não dá pra abrir completamente os braços. Saindo do antigo núcleo urbano, do outro lado do que sobrou da muralha, a cidade é mais esparramada, clara e ventilada, mas igualmente calma e vazia.


Faltava 1 hora para o horário combinado de sairmos para festa. Gilson pilotava lentamente olhando a paisagem e comentando empolgado sobre a moto antiga que tinha visto a pouco, e sobre as qualidades da nossa, quando percebeu que a nossa BMW F650, com 19 anos de idade e toda original, já era quase uma peça de colecionador também. Apesar da falha nas baixas e médias rotações, tinha um ótimo desempenho nas acelerações mais fortes e era muito prazerosa de andar. Já gostávamos tanto dela que nos referíamos a ela como uma companheira. Por que, então, não dar-lhe um nome e facilitar as coisas? Divagamos por alguns minutos sobre as possibilidades. A escolha foi unânime, seria uma homenagem à nossa anfitriã de Hamburg, cuja personalidade forte e suave e cabelos prateados tinha tudo haver com a nossa Brigite.




Clique sobre a imagem para abrir ou sobre as setas para avançar

Todos os anos os primos de minha mãe se encontram para comemorar a vida, a amizade e a gratidão, nesse mesmo restaurante onde a família de minha mãe morou em dois quartos do hotel durante os primeiros anos do pós-guerra. O mais velho ali deve ter nascido no ano em que Hitler foi nomeado chanceler da Alemanha, todos passaram a primeira infância no florescimento da Alemanha, quase todos perderam pai ou mãe durante a guerra, viveram a adolescência nos pobres e difíceis anos do pós-guerra e viram na união familiar a forma de se manterem firmes frente às dificuldades econômicas e sociais da época. A alegria do reencontro era notória.


Almoço e sobremesas estavam tão fantásticos que a sugestão de uma caminhada lá fora foi mais que comemorada pelos que estavam fisicamente aptos ao esforço. O professor Lehmann nos guiou pela antiga Rua da Mina, onde ficam as grandes casas dos excetivos das minas de carvão, e apontava os locais de interesse histórico. Logo na esquina, em frente ao restaurante, ele mostrou as pedras do tropeço, três paralelepípedos de concreto, embutidos na calçada com uma face revestida em latão. Cada pedra homenageia uma vítima do holocausto. Essas três em particular referem-se a judeus que viveram na casa em frente a qual as pedras estão instaladas e que conseguiram fugir do regime nazista. Já conhecia essa homenagem, mas era a primeira vez que a via de perto. (Stolpersteine - link no final do post)


A rua leva à antiga mina de carvão, e que faz parte de um sistema de 7 minas distribuídas numa enorme área pelo território com profundidade de quase 1 quilômetro, tornando este um lugar estratégico para o governo alemão até sua total desativação em 1981. O professor Lehmann contou a história das minas e da construção daquela torre (1927), único elemento remanescente de todo empreendimento e que atualmente faz parte da rota histórica do patrimônio industrial nacional. A torre é um marco histórico-arquitetônico da construção industrial dos anos vinte, marca a transição para a arquitetura funcionalista e se tornou um modelo de torre muito copiado posteriormente. Seu arquiteto, Alfred Fischer, é um dos mais importantes arquitetos industriais na região do vale do Ruhr. A torre abriga atualmente um centro cultural e está aberto à visitação, com agendamento. (Para saber mais sobre o assunto, coloquei os links aí em baixo em Serviço).




Clique sobre a imagem para abrir ou sobre as setas para avançar



De volta ao pequeno salão de festas, depois do café da tarde, Gerhard pegou o violão e convidou para cantar um sem número de músicas pop da época de juventude daquela turma, e todos cantaram. Por tradição termina-se a festa com um desafio, em que cada convidado tem que cantar uma música que os demais conheçam, a primeira parte canta-se sozinho depois os outros acompanham. Todos devem participar. Éramos umas 20 pessoas que cantaram músicas diferentes, sem repetir as anteriores ao desafio. Foi impressionante a quantidade de canções que aquele grupo conhecia, várias estrofes e refrãos e, quando terminavam, logo sugeriam outra que era acompanhada com entusiasmo. Até o Gilson, que não fala alemão, escolheu uma canção infantil que cantávamos pra vocês quando eram bem pequenos simulando um cavaleiro a cavalo, montado na perna que balança. Gilson não sabia toda música então espremeu a versão reduzida que foi aplaudida entusiasticamente:


"Hoppe, hoppe Reiter,

wenn er fällt dann schreit er.

(...)

Fällt er in den Graben,

fressen ihn die Raben.

(...)

Fällt er in den Sumpf,

dann macht der Reiter plumps."

(tradução: "Hop, hop cavaleiro, Se ele cai, então ele grita. (...) Se ele cair na vala, os corvos o comem. (...) Se ele cair no pântano, então o cavaleiro faz plumps ".)

 

O dia em números:

Deslocamentos:

  • Distância percorrida carro (Epscheid a Bönen e retorno) = 120 km ≈ Duração = 2h


Despesas:

  • Combustível € 0,00

  • Estacionamento € 0,00

  • Transporte público € 0,00

  • Hospedagem € 0,00

  • Alimentação € 4,20

  • Ingressos € 0,00

  • Moto (peças e serviço) € 0,00

  • Presentes € 0,00

  • Outros € 0,00

  • TOTAL € 4,20


Serviço:

 

Continue a leitura:


 

Posts recentes

Ver tudo
20180620_134954_edited.jpg
DEIXE SEU COMENTÁRIO
  • Instagram
SIGA-NOS NO INSTAGRAM
bottom of page