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PELAS ESTRADAS E NO AR - VOANDO COM LARS

Atualizado: 24 de ago. de 2021

Hamburg - julho, 2019 - Terça-feria


Dos primeiros dias de manutenção da moto em Hamburg, reservamos um dia para encontrar o primo Lars, que nos instigou a comprar uma moto usada para essa viagem e se dispôs a cuidar da negociação e trâmites burocráticos. Ele reservou uma tarde na sua apertada agenda de trabalho para nos receber.


Marcamos de encontrá-lo às 15h30min. naquela tarde. E com a maior parte dos serviços de manutenção já realizados, aproveitamos a manhã para lavar nossas roupas, fazer contato com amigos e família no Brasil e descansar um pouco enquanto as roupas secavam no varal, o que aconteceu antes das 11 horas porque o ar estava quente e muito seco.


O jardim de Brigite é lindo, sua aparência selvagem não revela que foi cuidadosamente planejado. Uma espécie de sabiá cantador preenche o silêncio da manhã. Abelhas e outros insetos voam pelas flores enquanto as maiores pombas que já vi, pombas selvagens, comem as sementes de girassol que Brigite deixou pra elas. O jardim está exuberante, apesar da seca prolongada, graças à escolha cuidadosa das espécies e às cisternas que coletam água da chuva. Os alemães são muito racionais e econômicos e estão preocupados com a seca prolongada, que já dura mais de dois anos. Os níveis do lençol freático estão baixos, sem o reabastecido necessário, e as florestas já tem muitas árvores mortas se destacando da massa verde.


A seca se faz sentir não só visualmente, mas também no clima, pois nesta época do ano deveria estar chovendo intensamente por aqui. É que a zona de equilíbrio onde as massas de ar frio que vem do norte encontram o ar quente e seco que vem do sul se deslocou para o norte, trazendo essas condições de calor seco para cá e para regiões mais ao norte como a Dinamarca.



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Depois de terminarmos nossos afazeres domésticos, ainda sobrou algum tempo antes do encontro. Saímos mais cedo com o plano de passar na concessionária BMW para buscar as peças encomendadas, que chegaram em Hamburg naquele mesmo dia, e depois seguir até Jork, uma linda aldeia localizada dentro de uma paisagem cultural de planície inundável, para almoçar.


Na estrada o humor do Gilson sumiu. Ele estava puto e irritado com os vapores que escapavam pela tampa do tanque de combustível, resultado da tentativa de manutenção da torneira do tanque no dia anterior. O caminho até a concessionária era de meia hora, mas tivemos que parar no meio do trajeto para desmontar a tampa do tanque e corrigir a posição da borracha de vedação.

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Na concessionária fomos atendidos pelo mesmo funcionário do dia anterior e com a mesma eficiência serena. Enquanto eu recebia a encomenda e fazia o pagamento Gilson aproveitou para se distrair um pouco, relaxar e olhar todos os produtos expostos na loja, que iam de tampa de ventil customizada aos últimos lançamentos de motos.


Terminamos relativamente rápido e logo estávamos de volta à estrada. Nós e meio mundo, pois além de ser meio-dia também coincidia com o período de férias. Assim nos deparamos com um enorme congestionamento na autoestrada A7, e o trânsito completamente parado. Era a única opção para sair do Centro, atravessando a ponte do Rio Elbe pela região portuária em direção da Baixa Saxônia, seguindo o leito do rio. Ficamos tempo demais presos.


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Quando finalmente abandonamos a autoestrada, tudo mudou. Depois de atravessarmos uma região de segurança nacional, a estrada de bom pavimento e pista simples acompanha o traçado sinuoso do leito do rio através de uma planície inundável protegida por um dique. Enormes pomares com suas árvores de maçãs e peras alinhadas e protegidos por barreiras vegetais contra os ventos fortes e constantes preenchem o território cortado por canais, encarregados de manter as terras drenadas. Esta é a região de maior produção hortifrutigranjeira do norte da Europa. Cada sítio tem uma enorme construção de dois a três andares, majoritariamente em enxaimel pintado de branco, com os vãos preenchidos com tijolos vermelhos que formam desenhos geométricos, e telhados com cobertura de fibra vegetal.


Seguimos assim até que chegarmos em Jork, uma vila que concentra no seu pequeno núcleo urbano todos os atributos da paisagem. Pretendíamos almoçar na cidade, mas perdemos tempo precioso presos no congestionamento, por isso seguimos em frente para não nos atrasarmos em nosso encontro e virarmos motivo de chacota sobre pontualidade à brasileira.


O dique do Rio Elbe, aldeia de Jork com seus canais e campos de trigo.


Os pomares dividem espaço com perfumadas plantações de morango, e algumas crianças brincavam alegres num dos muitos riachos, se refrescando do calor do dia. Seguimos entre plantações de milho e trigo quase maduro, numa sucessão de mudanças de direção, até chegarmos à casa de Lars cinco minutos antes do horário agendado.


Lars estava alegre e foi ótimo reencontrá-lo. O chapéu de cowboy dava a ele um ar australiano, reforçado pelo calor crepitante do dia. A água gelada foi mais que benvinda. Ele havia programado um voo de ultraleve conosco, passeio que tínhamos recusado no ano anterior, mas desta vez aceitamos. Mas antes de voar, ele nos levou a uma sorveteria onde tomamos um sorvete delicioso e mais que necessário, e abastecemos o tanque da Brigite, que já estava na reserva.


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O aeroclube ficava a pouco mais de 50 km, mas levamos uma hora para chegar lá. Lars nos conduziu pelos mais bonitos caminhos que só um nativo conhece. Ele andava rápido, muito rápido, passando dos 30 km/h exigidos nas vilas, aos 120 km/h das estradas rurais, reduzindo precisamente antes de cada radar e controlador de velocidade instalado nas rodovias. Ele tinha pressa, queria chegar cedo ao aeroclube. Mas estávamos com dificuldade de acompanhá-lo nas curvas, confirmando precisávamos trocar os pneus. Quando quase saímos pela tangente numa curva em cotovelo, Gilson o deixou ganhar a dianteira e o seguiu num ritmo mais calmo.


Atravessamos várias pequenas aldeias com calçamento de pedras, plantações de milho e trigo, florestas de pinheiros e florestas mistas tão altas que as copas criavam túneis verdes sobre a estrada com um microclima bem mais amigável que a secura calorenta lá fora. O único movimento foi a silhueta fugaz de um cervo curioso com seu filhote iluminados por um feixe de sol que conseguiu transpassar as copas do bosque.


No aeroclube o clima entre os sócios e frequentadores era descontraído e alegre. Lars ofereceu bebidas à vontade, mas ele ficou só com uma água mineral. Cada um se serviu e deixou num pote sobre o balcão a moeda no valor correspondente à bebida. Enquanto bebíamos nossos refrescos, ele foi à sala de controle registrar o voo. Em seguida nos levou ao Hangar, fez o registro do abastecimento e abasteceu o ultraleve. Depois o empurrou até pátio para fazer o check list externo do equipamento e aguardar a autorização de decolagem. Era um pequeno avião de dois lugares concebido numa estrutura tubular de alumínio com suas asas revestidas de compósitos semelhantes a lona e cockpit em compósitos semelhantes a fibra de vidro e acrílico.




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Terminado o procedimento padrão de checagem externa, perguntou quem queria ir primeiro, Gilson pareceu reticente decisão, então Lars sugeriu lançar a sorte: se desse cara seria Gilson, coroa seria eu e se a moeda caísse em pé ninguém precisaria ir. Todos riram, o gelo se quebrou e me ofereci para a primeira viagem.


Instalados e presos aos cintos de segurança, Lars procedeu o check-list interno e me passou as instruções obrigatórias dos procedimentos que eu deveria seguir no caso de alguma emergência que o impossibilitasse de pilotar. Recebida a autorização de decolagem, nos posicionamentos na cabeceira da pista, que não passava de um campo gramado.



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A aceleração foi curta e logo estávamos no ar ganhando altitude. Lars ficou em silêncio, de olho nos controles e nas minhas reações, deixando que eu curtisse o momento. É outra forma de voar, e a ausência de vento deixou o voo calmo, contrastando com a enorme quantidade de turbinas eólicas agrupadas em todos os lados lá em baixo e que hoje estavam estáticas. Não fosse o tremor e o ruído do motor, seria de pensar que estávamos flutuando.


Daqui de cima vê-se a Geest, uma planície costeira levemente ondulada por colinas. Lars comenta que as manchas verdes nos açudes que se abrem em leque na foz dos canais são algas que proliferam pelo excesso de fertilizante dos campos cultivados. Próximos às gruas do porto de Bremmerhaven, chegamos ao limite autorizado para o voo. Com o Mar do Norte ao alcance dos olhos ofuscados pelo sol do fim da tarde começamos uma generosa triangulação para retornar ao aeroclube.


Alinhados à pista de pouso o motor foi desligado, a aceleração cessou e começamos a perder altitude lentamente. Mas o pouso foi acelerado, Lars achou que eu não perceberia que estávamos com o dobro da velocidade normal de aterrissagem e acabamos parando no final da pista a algumas dezenas de metros do campo de milho.




Na sede Lars nos mostrou sobre um enorme mapa na parede o traçado do voo que fizemos. Ele também nos mostrou as alternativas para retornarmos à Hamburg. Já eram 20h30m, então optamos pela autoestrada e seguimos juntos até lá.


O trajeto foi tão bonito quanto o da ida, embora o caminho fosse outro. Nos despedimos no acesso à autoestrada, sabendo que não nos veríamos novamente, porque nós seguiríamos em nossa viagem para o sul e quando retornássemos ele já estaria em viagem de férias.


Ainda sem a fonte para carregar a bateria do celular, a essa altura ele já estava sem bateria, nos lembrando que sua reinstalação era necessário.


O trajeto pela autoestrada foi quase todo percorrido a 130 km/h. A resistência com o ar me fez lembrar que tenho músculos no pescoço e que eles são necessários.


Levamos pouco mais de meia hora para retornar à casa de Gerhard. Ele estava no pátio de Brigite, com Brigite e amigos, numa roda gostosa e altos papos regados à vinho verde do Minho e muitos petiscos à meia-luz do ocaso, Fomos convidados a participar da roda e, só então, percebemos que estávamos com muita fome, pois além do café da manhã e do sorvete não tínhamos comido nada, e nos juntamos a eles para compartilhar impressões das aventuras do dia.







Despedida de Lars

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O Dia em Números:

Deslocamento:

  • Trajeto de Harburg a Geestland e volta

  • Distância percorrida = 272km ≈ Duração = 4h50min.

  • Início 12h - Fim 22h30min.


Despesas Básicas:

  • Deslocamento € 16,92

  • Hospedagem € 0,00

  • Alimentação € 0,00

  • Ingressos € 0,00

  • TOTAL 16,92 €



 
Links úteis e interessantes:

Geest: https://de.wikipedia.org/wiki/Geest


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