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  • Foto do escritorBárbara

17° Dia: TRANSMUTAÇÃO: TRE CIME DI LAVAREDO, PASSO BRENNERO E PASSO GIOVO - Heiligenblut a Valtina

Atualizado: 24 de ago. de 2021

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Descendo em direção à Valtina.
Passo Giovo (Jaufenpass) - Itália
Valtina (Itália), 10 de agosto de 2019 - Sábado

Ficamos debruçados sobre o mapa ponderando a melhor adaptação do roteiro. Outros hóspedes, ali no refeitório do hotel em Heiligenblut, combinavam trilhas pelas montanhas ou percursos de moto pelas estradas alpinas da região, e pareciam mais animados que nós. Tínhamos percorrido no dia anterior a mais bela estrada panorâmica desta viagem, a Estrada Alpina do Großglockner, e a sequência seria um simples deslocamento, sem promessa de grandes atrativos.


"A gente deveria poder ficar mais tempo aqui!" disse Gilson.

Mas não seria desta vez. A saga da substituição dos pneus e o defeito no regulador de tensão provocaram três dias de atraso no nosso roteiro o que nos forçou a cortar os destinos mais a sul. Então, escolhemos o caminho mais curto até San Leonardo in Passíria, província de Bolzano no norte da Itália, que seria o ponto de inflexão do roteiro rumo ao norte, e nos permitiria percorrer novamente o lindo Passo del Rombo na fronteira da Itália com a Áustria no dia seguinte. Mas esse roteiro, infelizmente, não incluía as Dolomitas, apesar de tão próximas, e onde deveríamos estar terminando um giro pela região naquele dia.


DESPEDIDA NOSTÁLGICA

A BMW F650 ST, carinhosamente apelidada de Brigitte, nos levou ao longo do curso do rio, descendo pelo vale através de um Parque Natural. É um belo vale, verde, vivo, sereno, com algumas cachoeiras nas encostas da montanha e com asfalto excelente percorrido por motociclistas que nos cumprimentavam o tempo todo. Era possível sentir o ar gelado e seco, que descia da glaciar no alto do Großglockner, perder intensidade e aquecer-se a medida que nos afastávamos em direção a Lienz. Os picos dolomíticos podiam ser reconhecidos através de uma fina névoa no calor do dia. Definitivamente o ar limpo, glacial e azul do Großglockner tinha ficado para trás. O trânsito também se adensou e as muitas vilas que a rodovia cortava nos obrigavam a diminuir constantemente a velocidade. 


O perfil crespo da cordilheira ao nosso lado denunciava que estávamos tangenciando algumas das mais belas paisagens dos Alpes e a presença de tantos motociclistas só confirmava isso. Seguimos com sensação nostálgica de despedida dos lugares que conhecemos, de saudade do que não veríamos e de tristeza pela consciência de que o fim das férias se aproximava.


Seguimos com este sentimento borrando a sequência de imagens: vilarejos animados, ciclovias cheia de famílias alegres em férias, enormes pilhas de tábuas alinhadas cartesianamente ao longo da ferrovia, a placa na fronteira da Áustria com a Itália e um mercado de pulgas ao ar livre. Pareceu uma boa oportunidade de fugir do calor sufocante e comprar uma lembrança regional autêntica. A falta de espaço nas nossas malas nos fez optar por dois belos porta-copos antigos em madeira que levei no bolso da jaqueta por 2 euros. 



 Nosso Hotel em Heiligenblut - Clique nas Imagens para ampliá-las


Despedida das belas paisagens em movimento - Clique nas imagens para ampliá-las



Um curtíssimo desvio até ali em cima pra ver melhor como é viver nas encostas. - Clique nas imagens para ampliá-las.


A estrada segue descendo gradualmente pelo vale até a próxima cordilheira. - Clique nas imagens para ampliá-las.



Chegando a Lienz e ao Vale da Strada Statale 49 della Pusteria, de onde se avista os Alpes de Gail. - Clique nas imagens para ampliá-las.

IRRESISTÍVEIS DOLOMITAS

Nosso trajeto funcional foi interrompido quando a estrada se aproximou das montanhas e outra estrada nasceu aninhada num vale formado pelas montanhas mais dramáticas que já tive a chance de ver. Era a Strada Statale SS51, em Dobbiaco, na província de Bolzano, Itália. A estrada que vai na direção sul, leva à Cortina D'Ampezzo e o Lago di Misurina. Sugeri a Gilson um desvio através deste vale, para ver de perto aquelas lindas montanhas que o Google Maps mostrava fazerem parte do Parco Naturale Tre Cime di Lavaredo. Gilson, preocupado com o prazo da volta, topou com a condição de não nos demorarmos. 


Entramos neste longo e profundo vale que se alarga e estreita enquanto a estrada de traçado calmo e bom pavimento serpenteia entre colossos rochosos cobertos de abetos e outras coníferas. As florestas contrastam com o verde vivo intenso dos prados e os cumes pálidos e bicudos. Muitos motociclistas percorriam a estrada vindos de Cortina D'Ampezzo. Não há espaço para o tédio aqui. Foi um passeio fantástico e sem pressa por esta estrada que passa por uma paisagem arrebatadoramente cênica. Pareceu perfeito o momento de parar e almoçar, e perfeito também foi o almoço vegetariano e, sem dúvida, a melhor refeição da viagem até então, seguido de um delicioso sorvete na taça e uma merecida gorjeta!


Do outro lado da estrada um pórtico identifica a entrada do Parco Naturale Tre Cime di Lavaredo (Três Cumes de Lavaredo), informando a importância das Dolomitas, classificada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO por sua paisagem natural e geomorfologia únicas. Aqui iniciam diversas trilhas de trekking, ciclismo e alpinismo contornando ou subindo os três cumes dolomíticos nús, com seus paredões verticais de tonalidade cinza-rosada característica. Mas não foi desta vez que seguimos estas trilhas, ao invés disso, ficamos no pórtico de madeira que emoldura a vista dos Tre Cime, conversando com um alegre grupo de jovens aposentados austríacos de férias na região. Uma animada conversa e troca de informações surgiu quando nos oferecemos para tirar fotos do grupo. Eles nos instigaram a ir adiante, até o lago di Misurina, de onde parte uma estrada de altitude, parcialmente asfaltada, que leva à uma vista especial dos três cumes. Foi tentador seguir essa sugestão, mas o olhar do Gilson me trouxeram de volta à razão, era hora de nos despedimos e retomar aos planos originais.


Tangenciando o parque na SS49. - Clique nas imagens para ampliá-las.


Trocando a SS-49 pela SS-51 na altura de Dobiacco e seguindo no sentido Cortina Cortina D'Ampezzo


LAGO GLACIAL, LENTIDÃO E BOLO

No Lago di Dobbiacco paramos por 20 minutos para Gilson descansar e dormir num banco, enquanto as águas do degelo azulíssimas resfriavam nossa água mineral.  De volta ao trajeto, a estrada em pista simples segue comprida enquanto o trânsito intenso, que combinava alta temporada com final de semana, nos limitava a uma velocidade de tartaruga.


Paramos para um café com bolo na esperança que o congestionamento diminuísse um pouco. O bolo, o café e o atendimento estavam perfeitos e repetimos o pedido. Embora a fronteira entre os países divida uma região culturalmente comum, percebe-se que os despreocupados funcionários dos estabelecimentos comerciais italianos tem um carisma e eficiência muito diferente dos austeros e sobrecarregados proprietários de negócios familiares austríacos. Apesar da eficiência em tudo o que fazem, não conseguem ter a mesma simpatia dos italianos.


Lago di Dobbiaco e Parada para bolo. - Clique nas imagens para ampliá-las.



SS12 - ESTRADA DEL BRENNERO (BRENNERPASS)

De volta à estrada, o congestionamento não diminuiu e foi um alívio chegar à estrada antiga do Passo Brennero, que estava vazia e corre paralela à Autoestrada através um longo vale estreito cheio de povoados com suas torres de igreja e pequenas fortificações. É uma das mais importantes ligações entre o sul e norte Europeu conectando Pisa, na Toscana, a Innsbruck, na Áustria. Sua origem vem do império romano como uma rota comercial entre Roma e o porto de Stettin, na Polônia. Hoje mantém a importância comercial e é o principal caminho para os norte-europeus chegarem aos destinos de férias de verão no sul. Já tínhamos percorrido a bela Autoestrada no ano anterior e também gostamos muito de percorrer a versão slow aqui em baixo.


A luz do sol transpassava as nuvens grossas que se prendiam ao topo das montanhas e, com o dia chegando ao fim, perguntei a Gilson se ele estava realmente disposto a seguir até San Leonardo in Passiria, lembrando que ainda havia o Passo Giovo no caminho até lá. Ele nem titubeou, estava animado. Abastecemos em Sterzing, onde começa a Strada Statale 44 del Passo di Giovo, e seguimos adiante.  


PASSO DI GIOVO (JAUFENPASS)

A estrada do Passo di Giovo liga Sterzing a Merano. Com 41 km de extensão, esta estrada de acentuada inclinação, com o passo a 2.094 m de altitude, tem muitas curvas fechadas e paisagens variadas e estonteantes. É a passagem de montanha mais ao norte e totalmente localizada no território italiano.


A estrada quase vazia nos deu a oportunidade de usar todo o potencial de Brigitte e desgastar as laterais dos pneus novos, depois de tantos quilômetros de Autoestradas. Brigitte nos impressionou! Apesar de seus 20 anos de idade é muito forte na subida e, assim como nós, parece ter sido despertada naquele terreno.


Atravessamos florestas densas e várias pequenas vilas num aclive acentuado. Chegamos ao topo e paramos para apreciar a vista sob luz difusa, densa, úmida e fria, onde o único som era uma sinfonia de sinos, das vacas que pastavam no topo ao lado da estação do Teleférico vazia, enquanto a neblina era arrastada pelo terreno! Estávamos felizes por não termos desistido deste trecho, apesar do adiantado da hora, e aquele momento foi único.


Já começava a escurecer e, no trajeto de descida do Passo di Giovo, a neblina dava à estrada a impressão de que as curvas levavam de um abismo sem fundo a outro... Vários sinais ao longo do trajeto nos alertaram dos riscos por trás daquela beleza que àquela hora tínhamos praticamente só para nós.


A descida é estreita, com muitas curvas fechadas que chegam a 12% de de inclinação. É compreensível que o trecho entre St. Leonard in Passiria a Gasteig, que é praticamente toda estrada, seja proibido ao tráfego noturno, e proibido totalmente para veículos com reboques com mais de 4,5 metros de comprimento ou acima de 24 toneladas. Mas isso só ficamos sabendo depois. Foi por causa de um mapa de tours para motociclistas, que destacava com uma faixa colorida o traçado curvilíneo desta rota, que chegamos até aqui. Foi fantástico!


A MELHOR HOSPEDAGEM DE TODAS

Estávamos felizes, mas o cansaço começava a se manifestar e não tínhamos reserva de hospedagem. Decidimos procurar alguma pousada por ali mesmo e avistamos a tão desejada placa "Zimmer Frei" (quartos disponíveis) numa construção que se assemelha a uma residência familiar, logo após o término da sequencia mais fantástica de curvas da descida.


Como motociclistas, nem sempre somos bem recebidos por onde passamos, mas aqui, o cachorro da família, que veio a nosso encontro, já anunciava que este é um lugar fora do comum. O proprietário e anfitrião nos recebeu com uma simpatia espontânea e um brilho no olhar típico de quem tem prazer com o que faz. Deixou-nos à vontade, mostrou o quarto e demais dependências da pousada com simpatia e a segurança despretensiosa de quem sabe o valor do que tem, foi irresistível. Estávamos com fome, então descemos ao aconchegante bar cheio de moradores locais se divertindo num happy hour prolongado. Sentamos no deck do restaurante de onde se tem uma vista comprida sobre o vale. Era decorado com sólidas mesas e bancos de madeira, almofadas coloridas, velas e flores naturais e uma árvore na beira do precipício que acolhia uma casinha de pássaros.


Foi a mais romântica, saborosa e econômica refeição vegetariana de toda nossa viagem! Um maravilhoso nhoque ao molho sugo, enfeitado com uma flor de capuchinha, servido com salada verde ao molho agridoce. A escuridão era quebrada apenas pela iluminação indireta e a vela sobre nossa mesa e ouvia-se um riacho correndo forte lá em baixo enquanto alguns pingos de chuva começavam a cair timidamente.


Bebemos cerveja normal desta vez e nosso anfitrião achou graça quando recusei mais uma taça. Afinal, depois de tantos dias de abstinência alcoólica, nem sei se consigo subir as escadas em caracol daqui a pouco...


Tcheers! Ic! -

 
O Dia em Números:

Deslocamento:

  • Trajeto de Heiligenblut (AT) a Valtina (IT) 

  • Distância percorrida = 169 km ≈ Duração = 4h36min

  • Início 10h - Fim 20h 


Despesas Essenciais:

  • Combustível: € 29,27

  • Estacionamento: € 0,70

  • Hospedagem em Valtina: € 90,00

  • Alimentação: € 79,80

  • Ingressos: € 0,00

  • TOTAL: € 199,77


Custos de manutenção:

  • Serviços: € 0,00

  • Peças: € 0,00

  • Ferramentas: € 0,00

  • Material de consumo: € 0,00

  • SUBTOTAL B - € 0,00




 
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