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26° Dia: Respeito, turbulência e honestidade - entre Würzburg e Göttingen

Atualizado: 24 de ago. de 2021

Göttingen, 02/07/2018 - Segunda-feira

A viagem se aproxima do fim, faltam apenas três dias para embarcarmos de volta ao Brasil. Acordamos cedo, determinados a encontrar uma oficina especializada em motos para trocar a transmissão secundária. Fomos ao Louis Mega Shop da cidade de Würzburg para pedir uma recomendação, mas a loja só abriria às 9h. Outros clientes, que também esperavam, sugeriram que fôssemos a oficina e loja HMF Motorcycles que ficava bem perto dali. Foi o que fizemos e fomos atendidos assim que as portas abriram.



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Fomos encaminhados diretamente ao chefe de oficina, Johan, que confirmou a urgência do serviço. Fiquei surpresa pelo conhecimento que eu já havia acumulado e a capacidade de traduzir os termos técnicos, o que despertou um olhar de respeito em Johan. Ele passou então a falar diretamente comigo, embora ainda mantivesse contato visual com Gilson, que continuava orientando minha comunicação. A loja não tinha as peças em estoque, mas havia um conjunto disponível na Louis, ela aguardava nossa chegada sobre o balcão quando chegamos minutos depois. Ao retornar à oficina com a relação secundária nova, fomos convidados a conhecer a loja, mas preferimos ficar na sala de espera de onde Gilson pôde assistir Johan trabalhando: relógio temporizador ativado, ele começou a trabalhar e terminou 41 minutos depois.


- Fertig. -


Ele disse, e vestiu o protetor de coluna, o casaco de cordura, as luvas e o capacete e foi fazer uma volta de avaliação com a moto. Retornou 15 minutos depois, procedeu alguns ajustes finais e fez um breefing sobre os cuidados que deveríamos ter até chegarmos à Hamburg. Ele se interessou pela nossa comunicação, perguntou com discrição da nossa origem e da moto. Contamos que a compramos em Hamburg, para essas férias que já estavam terminando. Ele reagiu com desconfiança quando soube que Gilson mesmo faria os tais ajustes e mais surpreso ainda quando soube das outras manutenções que havíamos feito até então. Era visível que a imagem que fazia de Gilson transforma-se positivamente.


Ele alertou para o leve desgaste nos rolamentos da coluna de direção. Pensamos em trocá-lo, mas também este não havia no estoque, nem naquela loja nem na loja Louis. Gilson perguntou a opinião de Johan sobre afrouxar a contra porca para liberar o guidom da área desgastada, mas ele respondeu que esta seria uma solução à africana (como?), admissível apenas em lugares sem recursos disponíveis (...), o que não seria justificável na Europa e que ele não poderia recomendar nem incentivar.


Ele ainda se desculpou por levar uns bons 15 minutos preenchendo os formulários da loja. Quando nos despedimos, perguntamos se ele não teria vontade de conhecer o Brasil, ele disse que o Brasil é muito grande e demandaria muito tempo para conhecer. Com apenas 20 dias contínuos de férias ao ano preferia dedicá-los a um destino mais próximo e fazer um tour de moto pelo Marrocos, viagem que já havia feito e que pretendia repetir naquele verão. Eles conversaram por mais algum tempo com minha intermediação. Rolou uma simpatia mútua e aperto de mão se despediram.






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Conforme prometido, o serviço terminou a tempo de fazermos o check-out do hotel dentro do prazo limite. Carregamos a bagagem na Brigite, seguimos para o Centro Histórico de Würzburg e procuramos um lugar bacana para almoçar.


Optamos por almoçar num buffet BIO (orgânico). Cada um se serviu de um prato de salada, com preço à peso, e compartilhamos um pratão de gulasch vegano e arroz branco, um prato-feito com preço pré-fixado. Degustamos esse delicioso almoço sentados numa mesa ao ar livre, vendo o movimento dos ciclistas e trams. Esse negócio de dividir o prato principal dá muito certo na Alemanha, não gostamos de ver comida boa sobrando no prato e ser jogada fora. As porções por aqui são generosas então é mais que suficientes pra nós dois, que comemos pouco, e ainda dá pra economizar. Finalizamos com um delicioso sorvete italiano servido por um estrangeiro simpático que falava um alemão difícil de entender.


O centro de Würzburg é bem vivo e agitado. Estávamos na área de pedestres, nossa Brigite ficou estacionada numa das raras vagas específica para motos, próximo de onde almoçamos. A cidade é um importante porto fluvial e foi muito danificada durante a segunda guerra mundial. Cogitou-se a possibilidade de deixá-la em ruínas, mas ela foi reconstruída, embora algumas marcas tenham ficado, como ali na fachada do Hospital Juliuisspital, que mantém marcas de tiros e lembram que na guerra atrocidades acontecem e vem de todos os lados envolvidos no conflito. Gilson ficou muito impressionado.


O sol estava a pino e o calor intenso, subimos então até o forte Marienberg com a esperança de encontrar ali um bom lugar para descansar e fazer a digestão. No pátio sobre a muralha pós-renascentista havia um Biergarten sombreado com vista sobre as colinas cobertas de vinhedos, a cidade e o rio Main. A moto nos aguardava lá fora, na sombra das árvores que certamente não existiam quando o forte foi construído.





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Descansados e abastecido o tanque da Brigite, seguimos viagem lembrando o clima do happy hour de ontem, foi de deixar saudade... Pela autoestrada A7 faltavam pouco mais de 500 km até Hamburg. Combinamos rodar até as 17h quando decidiríamos onde pernoitar. Já no início do percurso houve uma confusão na nossa comunicação e erramos uma saída na autoestrada, que quase sempre tem mais de uma bem próximas uma da outra. Aquele erro nos custou 30 km para retornar à saída correta!


De volta à rota programada, passamos por uma região com várias montanhas e muito arborizada. A estrada vencia os vales sobre enormes viadutos, mas as rajadas de vento nos vales associadas com o deslocamento de ar provocado pelos caminhões deixou a condução perigosa pela turbulência, e não ousei fotografar ou filmar por receio de não conseguir segurar o equipamento. O motociclista conhece bem esse efeito: ao começar a ultrapassagem o vento que escoa por baixo do caminhão te suga para baixo dele, o piloto compensa forçando para o sentido contrário e ao finalizar a ultrapassagem encontra a área do vórtice que se forma a frente do caminhão e que te empurra no sentido contrário da sucção lá trás, é uma coisa muito doida!


Mas a estrada era excelente e permitiu desenvolver velocidade alta. Paramos várias vezes para descansar, comer, fazer pipi e abastecer. Num destes postos a operadora do caixa chamou "nein, nein, nein!" quando colocamos uma garrafa vazia na lixeira a caminho para comprar um pacote de balinhas Haribo Sauer. Ela deu a volta no balcão, recuperou a garrafa e nos convidou a segui-la. Passou o leitor ótico no código de barras e nos entregou um bônus de 25 centavos pelo retorno da garrafa que, somado aos do uso do banheiro, pagaram o pacote de balinhas e ainda teve troco! Na última parada, ao pagar o abastecimento, algumas moedas caíram sobre o expositor de doces e as ouvi caindo no chão. Coloquei uma nota de 20 euros na bandeja de pagamento e me abaixei para procurar as moedas, mas quando levantei flagrei uma expressão estranha no operador do caixa, apanhei o troco e vi que correspondia ao de uma nota de 10 e não de 20. Não pude comprovar o feito e vendo que o Gilson já foi ficando puto, não gastamos mais dinheiro ali. Saímos, esticamos os casacos na grama lá fora e comemos os sanduíches preparados no café da manhã do hotel. Ali decidimos transpor mais 85 km até Göttigen, onde havia boas opções de hospedagem.




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Ao final do dia, com o sol na altura dos olhos lançando luz dourada sobre o entorno, abandonamos a A7 e percorremos alguns quilômetros pela rodovia estadual a caminho de Göttingen, passando por uma paisagem que nos deu a sensação de estarmos dentro de um quadro de van Gogh.


Göttingen é uma cidade universitária de porte médio. Seus professores e alunos receberam diversos prêmios Nobel, principalmente nas áreas da física, química e biologia. Göthe, o escritor alemão mais respeitado de todos os tempos, foi professor na universidade daqui. Nesta cidade tivemos a recepção hoteleira mais simpática e acolhedora de toda a viagem, num pequeno e confortável hotel localizado ao lado de uma filial da Louis. Fizemos questão de elogiar a recepção, porque chegar cansado de uma viagem e ser recebido com atenção é bom demais, e o que é bom deve ser valorizado e registrado.


Terminamos o dia seguindo a recomendação da recepcionista, com uma caminhada em volta da quadra que nos levou a um centrinho muito charmoso, onde comemos uma pizza gostosa, barata e enorme feita por estudantes de origem muçulmana que não vendiam bebidas alcoólicas. Comemos a pizza ali mesmo, olhando para a pracinha, as ruas calmas e a lua que mais parecia o sorriso do gato de Alice. De volta ao hotel, inserimos o código de segurança na porta principal, conforme as instruções recebidas pela recepcionista, pensando que qualquer pessoa que soubesse o código poderia entrar no hotel que àquela hora só tinha um vigia. Mas, quem se daria ao trabalho de espalhar o código? A cultura da honestidade é mesmo uma coisa fantástica!


 

O dia em números:


Deslocamento:

  • de Wüzburg a Göttingen

  • Distância percorrida = 286 km ≈ Duração percurso = 3h15m

  • Início: 15h30m - Fim: 20h15m


Despesas:

  • Combustível € 19,27

  • Estacionamento € 0,00

  • Hospedagem € 73,00

  • Alimentação € 16,27

  • Ingressos € 0,00

  • Moto (peças) € 103,35

  • Moto (serviços) € 84,03

  • Presentes € 3,40

  • Outros € 37,82 (calça de cordura p/ Gilson)

  • TOTAL € 337,14






Serviço:


 

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