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25° Dia: Relação desgastada, Posto boutique, Tribos diversas e Dança solar - de Munique a Würzburg

Atualizado: 30 de out. de 2021


Würzburg, 01/07/2018 - Domingo

Estar em Munique e não poder ver o Deutsches Museum e a Alte Pynakotek é frustrante! Caramba! A gente entende racionalmente as prioridades: a segurança, a saúde e o prazo da volta, mas emocionalmente é difícil aceitar. Fiquei remoendo esse sentimento enquanto tomava o café da manhã, mas ele estava tão gostoso que não me deixou sentimentos negativos. E Gilson estava ali na minha frente - exemplarmente sereno - e eu sabia o quanto seu problema de saúde, que havia se manifestado novamente, o perturbava e, segundo a enfermeira da família, o repouso era essencial.


Então tá! Se anima mulher! A prioridade é outra! Então, vamos para uma segunda rodada...e uma terceira... E agora o sanduíche de emergência. Show!


Aguardamos para fazer o check-out, enquanto outro hóspede terminava seu atendimento. Estávamos apenas com mochilas e malas laterais, o restante da bagagem ficou na garagem do subsolo. É engraçado como as pessoas ficam curiosas quando veem motociclistas vestidos com suas roupas de proteção, mesmo estando num país onde o universo do motociclismo está tão bem estabelecido.


Fechada a conta do hotel com o melhor padrão da viagem - e preço compatível - descemos até a garagem e terminamos o chato processo de distribuir e fixar os volumes das bagagens na moto. O roteiro do dia seria o caminho mais rápido para Würzburg, uma cidade universitária, início da Rota Romântica e a segunda parada no retorno para Hamburg. Ali havia chance de encontrar lojas de peças de moto e oficinas, pois era iminente o perigo de quebra da corrente na transmissão secundária. Munique naturalmente também tinha esse potencial, mas era domingo, e Gilson estava ansioso para fazer o serviço mais próximo possível do destino final. Insisti muito para que desta vez ele entregasse o serviço a uma oficina especializada, para assim poder seguir pilotando descansado. Ele concordou discordando, afinal para alguém com o seu conhecimento entregar sua expertise a outro, afeta sua vaidade, mas antes a vaidade que a saúde...


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O dia estava perfeito para andar de moto: sol e calor, e não quero dizer com isso que chuva e frio não tenham lá sua beleza. Onde havia cidades nas margens da autoestrada as barreiras acústicas eram diferentes em relação às demais regiões, aqui elas tinham a configuração de diques cobertos com ervas coloridas, uma solução bem agradável de ver. Suponho que seja também uma barreira de segurança, pois se situam perto de áreas habitacionais e em trechos de acesso/saída.


Barreiras acústicas, nos acessos/saída de autoestradas próximos de áreas habitacionais.


O desgaste na corrente tinha se acentuado bastante, e de forma desigual, então Gilson manteve a velocidade mais baixa. Paramos para abastecer e ajustar a tensão da corrente em um posto incrível, que deve ser uma referência entre os postos, pois estava cheio de carros e motos. Estacionamos a nossa ao lado de outras que formavam um grupo bem heterogêneo. Havia um grupo chopper, um custom e outro roadster e big trail, e seus proprietários vestidos ao caráter de suas tribos. O grupo chopper fazia manutenção no sistema elétrico de uma das motos que apagou completamente depois do abastecimento, e na falta de ferramentas o grupo roadster ofereceu as suas enquanto o pessoal dos demais grupos ficou ali dando apoio moral. Também ficamos, e Gilson, sentado no chão, aproveitou para ajustar a tensão na corrente da Brigite usando as próprias ferramentas que eu ia passando para ele. Nossa afinidade estava tinindo, estávamos nos entendendo sem falar. Gilson observava o trabalho do colega pronto para ajudar, eu ouvia a conversa dos alemães e traduzia baixinho. Logo ficou evidente que éramos os únicos estrangeiros e rolou uma inspeção visual na nossa moto vintage e de seus ocupantes. Quando o olhar chopper caiu sobre a mancha de chocolate que escorria do para-brisa para o farol e ainda não havíamos limpado ele soltou uma alegre exclamação rouca, sorrindo com simpatia para mim; "Oh! Dass is'ne Sau!" que é algo como "esse cara é um porco radical", o que nos enquadrava como roadsters com mentalidade chopper. Rá! Foi engraçado! Quando o sistema elétrico da moto voltou à vida rolou entusiasmo generalizado e aperto de mão pra todos os lados, inclusive para nós. Parece que fomos aceitos na irmandade.


Perto do final do trajeto o Gilson ficou com sono enquanto pilotava, então paramos para abastecer e ele decidiu deitar na grama para dormir por 15 minutos, foi o suficiente para ele recuperar a disposição e continuar. A viagem seguiu conforme planejado, chegamos a Würzburg no meio da tarde e seguimos direto para o hotel que eu havia selecionado na última parada, usando os filtros usuais: menor preço para dois e estacionamento. Chegando ao hotel Ibis, localizado às margens do rio Main, percebemos que o estacionamento mencionado não era do hotel, mas um estacionamento público e pago na quadra ao lado. Optamos por deixar a moto estacionada ao lado do hotel em área pública, junto a outras duas motos já estacionadas ali e não tivemos problemas.


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Faltando 9 km para chegar a Würzburg a luz do sol e a paisagem lembram os quadros de Van Gogh.



Depois de instalados com toda nossa bagagem convidei o Gilson para caminhar na margem do rio, nos fundos do hotel, mas o Gilson ficou preocupado que aquele lugar poderia estar repleto de drogados, bêbados, traficantes ou oportunistas. Ele não gostou da ideia, mas acabou indo porque vimos que várias pessoas de aparência bem normal estavam indo e voltando daquela direção.


Ali era o antigo porto, atualmente desativado, e havia aquele depósito de grãos de 1907 desativado também, comprido, com três andares, restaurado e com uso convertido para um Centro Cultural. De longe vimos um pessoal dançando uma modalidade e dança que parecia ser forró, mas quando nos aproximamos vimos que era na verdade música dos anos 20 e 30 tocada ao vivo por um grupo muito bom, com violino, contrabaixo, e violões. Os músicos se instalaram na área externa de um barzinho localizado na margem do rio, nos fundos do Centro Cultural, e a escadaria que levava ao interior do bar estava lotada de pessoas de todas as idades que aparentavam serem uma mistura de estudantes, moradores boêmios e turistas. O clima era leve, descontraído, alegre e receptivo. Havia uma mesa no alto da escada com várias comidinhas, as pessoas podiam se servir e colocar uma contribuição num vasinho de vidro. Também teve caixinha de contribuição para os músicos que circulou entre os espetadores. Pedimos duas cervejas diferentes e ficamos ali na escadaria ouvindo a música, assistindo a dança e vendo o sol baixar lentamente. Todos numa elegância natural, confortável e discreta e sem rostos rebocados de maquiagem e saltos altos torturando os pés: o paraíso das mulheres deve ser assim. Ficamos ali até o sol desaparecer no horizonte e apenas uma luz difusa iluminar o caminho. Foi bom demais!



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Já passava das 22h, estávamos com fome, ainda não tínhamos comido nada consistente o dia todo. Voltamos ao hotel para procurar um restaurante nas proximidades. Havia um local quase em frente ao hotel que aparentava preparar lanches. Era um Biergarten totalmente diferente do local onde estivemos antes. Ali, embora fosse amplo, o clima era intimista, reforçado pela pouca luz concentrada sobre os conjuntos de cadeiras, sofás e mesas e que marcavam os lugares de estar. Tinha até um canto identificado por uma placa com os dizeres "canto dos desesperados" onde duas mulheres estavam sentadas lado a lado. O Biergarten estava quase vazio, além de nós apenas as mulheres desesperadas, dois rapazes que assistiam o jogo da copa e um casal que fumava nargile.


No balcão da cozinha pedimos um prato chamado Veggie, era uma tijelona repleta de uma diversidade de legumes assados e verduras refogadas. Naquela falta de luminosidade não dava para reconhecer o que eram os pedaços que vinham espetados no garfo. Mas, espera aí! O que é isso? Eu conheço esse gosto, mas não lembro o que é...! Acho que é...! Ah não! É carne! Não sei o que fazer e acabei por engolir. Desceu pela garganta rasgando e fiquei com raiva de mim mesma por não ter entendido a explicação da jovem cozinheira que agora também fumava nargile com o casal. Mas também, o que esperar de um ambiente que mistura penumbra, música alta e narração de jogo de futebol? De qualquer forma o Gilson, que não é vegetariano, gostou. Como os ingredientes foram apenas reunidos na mesma tigela e não estavam misturados, cada um comeu o que era de seu agrado. Foi estranho...


Na saída as mulheres desesperadas me presentearam com um vaso de alecrim, que aceitei e mais tarde ofereci para a recepcionista do hotel porque não seria possível levá-lo comigo na viagem. Ela gostou e o deixou no balcão da recepção, harmonizou muito bem com o restante da decoração moderna.


Não tínhamos nenhum plano, para Würzburg além da manutenção na moto. Então fomos dormir embalados com a lembrança do happy hour solar, uma experiência incrível que tivemos, graças a localização do hotel, nessa cidade universitária, que merece pelo menos um dia inteiro para ser explorada.



Happy hour em Würzburg (video: Gilson)

 

O dia em números:

Deslocamento:

  • De Munique a Würzburg

  • Deslocamento = 290 km ≈ Duração = 3 h

  • início: 11h - Fim: 15h30m (de hotel a hotel)


Despesas:

  • Combustível € 26,77

  • Estacionamento € 0,00

  • Hospedagem € 91,00

  • Alimentação € 46,75

  • Ingressos € 0,00

  • Moto (peças e serviços) € 0,00

  • Presentes € 0,00

  • Outros € 2,00

  • TOTAL € 166,52


Serviço:

 

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