top of page
  • Foto do escritorBárbara

Uma Viagem de moto Pelo Interior da Alemanha, Áustria e Itália

Atualizado: 24 de ago. de 2021


No Studio de Brigitte, Hamburg, Alemana

Estranha essa sensação de sentir o coração batendo um pouquinho mais rápido, um friozinho no estômago e me flagrar sorrindo sozinha com um brilho nos olhos sempre que me lembro da nossa desajeitada primeira viagem de moto em junho de 2018.


De vez em quando olho pro Gilson e vejo na sua expressão que está lembrando também, aí ele fala assim, do nada:


"Ano que vem vamos de novo!"


Não faz nem 7 meses que voltamos e já parece uma eternidade... Mesmo assim as sensações ainda estão vivas e presentes.


Nossa primeira viagem de moto nos envolveu por completo e nos fez lembrar que somos mais que a rotina revela. Passamos por alguns perrengues, que nos testaram de várias formas, e por momentos fantásticos e únicos, que não poderiam ter sido planejados. Voltamos unidos, felizes, descansados e com vontade de repetir a dose. Foi bom demais!


"Que é necessário sair da ilha para ver a ilha,

que não nos vemos se não nos saímos de nós,

Se não saímos de nós próprios"

(O conto da ilha desconhecida - José Saramago)

Poder contar com a experiências de outros viajantes e motociclistas através de seus relatos e conselhos foi importante para nosso planejamento, mas a execução diferiu em muitos aspectos da prática de viajantes mais rodados e refletiu nossas limitações e gostos pessoais. Tivemos acertos, mas tivemos também vários erros. Veja como foi:

 

Planejando as rotas do dia (foto: Gilson)

O INÍCIO


Tudo começou com a tarefa de levar minha mãe à Hamburg, no norte da Alemanha. Pensamos em aproveitar a oportunidade e fazer um roteiro turístico de moto. Era apenas uma divagação, mas as informações mostraram que seria mais simples do que parecia. Contamos com conselhos e ajuda de um primo motociclista, que cuidou da compra e documentação da moto, facilitando muito a realização desse sonho.


Estávamos muito cansados, há quatro anos sem tirar férias, só queríamos descansar e ter tempo um para o outro. Para Gilson não importava aonde ir, desde que fosse de moto. Então traçamos um roteiro para o sul, começando na região de Munique onde deixaríamos minha mãe num encontro de amigos. Focamos nos Alpes e por onde as paisagens são protagonistas. Viajamos em junho e tivemos dias de clima ameno na maior parte do tempo, mas também dias de calor extremo e baixa umidade atmosférica, outros nublados e frios, ou com chuva torrencial, afinal, era primavera.


Os primeiros dias seriam para fazer a revisão na moto, mas só tivemos acesso a ela pouco antes de iniciarmos o roteiro, isso interferiu nos nossos planos e tivemos que adaptá-los.


O ritmo da viagem também transcorreu mais lentamente que o planejado, pois alguns dias antes do embarque, Gilson teve um problema de saúde que nos fez pensar em adiar a viagem. Quando decidimos ir, apesar dessa condição, estávamos prontos para nos adaptar ao que fosse necessário.



PAISAGENS E CAMINHOS COMO DESTINO


Voamos para Hamburg, onde ficamos com a família nas primeiras 8 noites. Ali pudemos vivenciar o cotidiano dos alemães e conhecer um pouco desse povo capaz de reconstruir o país após duas derrotas consecutivas em guerras mundiais.


O 1° dia foi de aclimatação e providências básicas. Nos dias seguintes compramos o equipamento de proteção individual numa loja que parecia a Disneylandia dos motociclistas. Também fizemos turismo conhecendo o enorme porto de Hamburg e o Memorial da Segunda Grande Guerra, caminhamos pela Hafencity e Speicherstadt, o maior complexo de depósitos portuários contíguo do mundo e classificado como patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO.


Fizemos um passeio de carro para conhecer uma região próxima da fronteira com a antiga Alemanha Oriental, uma área de agricultura desenvolvida com sustentabilidade aplicada dentro da área de proteção natural e cultural da charneca de Lüneburg (Lüneburger Heide).


O 5° dia foi o tão esperado momento de buscar a moto e fazer o primeiro passeio, quando aprendemos o cumprimento dos motociclistas alemães. Nos dias seguintes preparamos a moto, providenciamos o que estava faltando e tivemos uma pequena pane em plena hora do rush que nos alertou que revisão adiada poderia revelar outros problemas ao longo do percurso. Tentamos retribuir as gentilezas de nosso anfitrião e, entre máquinas que não funcionam, proibições de trânsito e taças de vinho, aprendemos algumas lições.



Clique sobres as imagens para ampliar.


No 8º dia seguimos de moto o primeiro trecho rumo ao sul, para a minúscula Epscheid, nas montanhas de Sauerland, próximo a Colônia, onde nos hospedamos com a família por 4 noites.


Conhecemos um museu ao ar livre e uma fazenda. Participamos de um encontro de família programado para aquele final de semana e batizamos nossa companheira de duas rodas. Essa é a terra verde de primos ruivos, gigantes e bruxas, uma região de indústria moderna que convive em harmonia com seu passado e ambiente natural.


Minha mãe decidiu ficar em Epscheid e não prosseguir comigo de trem até Munique. Assim, Gilson e eu pudemos iniciar nosso roteiro juntos, percorrendo a intrincada rede de autoestradas alemãs, de superfícies perfeitas e sem limite de velocidade, para chegar à Rota Liebliches Taubertal no caminho até a medieval cidade-museu de Rothenburg ob der Tauber, onde dormimos 2 noites.


Continuamos a sul pela Romantische Straβe, onde conhecemos a colorida e vivaz Dinkelsbühl, e seguimos por autoestrada até os pés dos Alpes Bávaros, onde ficamos 6 noites em Bad Bayersoien.



Clique sobres as imagens para ampliar.




A estrela desta região é pico Alpspitze com 2.628 m de altitude, sua forma piramidal lembra muito o famoso Matterhorn. Subimos de teleférico até a Alpspix, sensacional plataforma de contemplação em balaço sobre o precipício varrido pelo vento, e fomos engolidos por uma tempestade durante a descida ao vale. Ficamos encantados com o exemplar perfeito do rococó bávaro, a pequena igreja de peregrinação de Wies, classificada patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO.


Ao longo dos passeios constatamos que o freio traseiro da moto ficou travado e nós mesmos fizemos a manutenção. Depois relaxamos os músculos tensos nas piscinas de águas termais com vista para o castelo de Neuschwanstein em Schwangau, nas proximidades de Füssen.


Visitamos Palácio Linderhof, no coração do Parque Natural dos Alpes de Ammergau, onde as formas do ambiente natural são um contraste absoluto com o projeto calmo, linear e simétrico do palácio eclético e seus jardins. Tivemos o raro privilégio de encontrar um casal de águias-reais livres em seu habitat natural, parados ali no enorme estacionamento vazio ao fim da tarde.


A sequência da viagem nos levou a cruzar os Alpes. Percorremos o belo Ettaler Sattel, entramos na Áustria por Mittenwald e Scharnitz e atravessamos todo país de norte a sul, passando pelo vale de Ötz, onde foi encontrado Ötzi, o homem do gelo de 5.300 anos. Percorremos a inesquecível passagem de montanha Timmelsjoch/Passo Rombo para chegar à Merano, na Itália, cidade repleta de motociclistas, onde ficamos 2 noites.


Gilson intuiu em Merano que era necessário voltar à Alemanha mais cedo, o que foi feito pelo Passo Brennero/Brennerpass que nos surpreendeu com a beleza de sua topografia, e pela Deutsche Alpenstraβe, trajeto que transcorreu debaixo de uma chuva torrencial, interrompendo nosso percurso em Walchensee onde ficamos 2 noites à beira de um lindo lago.


Clique sobres as imagens para ampliar.

Nesse cenário de beleza, serenidade e isolamento o carburador da moto apresentou um defeito que impediu a continuidade da viagem e tivemos que fazer um pequeno e engenhoso reparo de emergência a quatro mãos que testou nossos limites.


Chegamos a Munique na continuação da Deutsche Alpenstraβe, onde descansamos por 1 noite. O retorno a Hamburg se deu em dois dias, dormindo a primeira noite na cidade universitária de Würzburg, onde vivenciamos um happy hour muito bom no antigo porto convertido em Centro Cultural às margens do Rio Main e fizemos a substituição da transmissão secundária numa oficina exemplar. Na segunda noite dormimos em Göttingen, uma cidade universitária onde Göthe, o escritor alemão mais respeitado de todos os tempos, foi professor, e onde tivemos alguns encontros memoráveis. Em Hamburg pernoitamos mais 2 noites antes de embarcar de volta ao Brasil.



Clique sobres as imagens para ampliar.





BRIGITE, A COMPANHEIRA VINTAGE E CLASSUDA DE DUAS RODAS


Clique sobres as imagens para ampliar.


Viajar na Europa com uma moto própria foi uma experiência ótima que eu repetiria, mas recomendo apenas para quem tem noções de manutenção mecânica. Optamos pela compra da moto como uma forma de baixar os custos em relação à locação.


O aluguel de uma moto equivalente a que usamos, para um período de locação de 15 dias, ficava entre 95 a 120 €/dia. A caução para cobrir custos com eventuais danos, em dinheiro ou cartão de crédito, variava de € 1.000 a € 2.000.


Compramos a BMW F650, ano 1999, com 24.400km acumulados, e muito conservada. O custo da compra, seguros e documentos foi pouco abaixo de € 1.600. O objetivo era vendê-la, mas estamos considerando ficar com ela por mais algum tempo para fazer outra viagem.


Não conseguimos fazer a revisão e manutenção planejada para os primeiros dias. Só tivemos acesso a ela faltando dois dias para iniciarmos o roteiro. Isso nos deixou ansiosos e acabou consumindo 4 preciosos dias. Por outro lado, conhecemos melhor o norte da Alemanha, coisa que não aconteceria se estivéssemos fazendo a revisão. As manutenções corretivas foram feitas à medida que os problemas apareciam, e Gilson, que tem bastante conhecimento e experiência, garantiu que a viagem não perdesse seu brilho.



COMPRANDO O EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL



Clique sobres as imagens para ampliar.



Todo equipamento de proteção individual pode ser alugado na Alemanha, mas essa não foi a nossa preferência.


Na União Europeia os capacetes seguem uma norma de teste de segurança mais rigorosa que no Brasil. Não quisemos arriscar um confronto com autoridade de trânsito usando capacetes sem o selo da UE. Optamos por comprar os capacetes e roupas de proteção lá.


Usamos o site da loja para estimar o custo do equipamento de proteção individual. No total, reservamos € 600 para essa compra. Quando fomos confrontados com as peças reais e pudemos avaliar sua qualidade acabamos mudando as escolhas para equipamentos melhores e mais caros, mas nos limitamos ao valor pré-fixado no orçamento. Os capacetes, roupas e luvas são excelentes e ficamos muito satisfeitos. Serão muito úteis no Brasil, onde nossa rotina diária envolve vários deslocamentos de moto no congestionado trânsito de Florianópolis.


Erramos em não levar nossas capas de chuva, acabamos emprestando esses itens junto com um saco estanque e protetores de botas.



Na região de Mittenwald, fronteira com Áustria (foto: Bárbara)

BAGAGEM: UM SER COM VONTADE PRÓPRIA?


Uma viagem de moto impõe limitação óbvia de volume e peso a transportar e nos deu uma bela lição. Não levamos muita bagagem, mas ela cresceu ao longo do percurso com presentes e encomendas, e passou a ser uma carga negativa nos nossos ânimos, mais até que os defeitos que a moto apresentou. O processo de organizar a bagagem e fixar sobre a moto antes de partir e depois ter que desfazer tudo a cada mudança de hotel foi extenuante!


Veja o que levamos:


Ferramentas da moto: O conjunto de ferramentas era compacto, foi adequado e realmente útil e necessário. Levamos o kit original da moto, que ia transportado debaixo do banco, e mais um kit complementar que cabia num canto dentro da mala de tanque.


As ferramentas foram adequadas para a manutenção básica possibilitando a manutenção das lâmpadas, velas de ignição, inspeção da bateria, manutenção do filtro de ar com retirada das tampas laterais, desmontagem das rodas, manutenção da relação secundária (corrente, coroa e pinhão), manutenção dos freios. Gilson poderia ter levado algumas chaves mais específicas, como foi a necessidade durante a desmontagem e correção do defeito do carburador.


As malas laterias de 20 litros tinham o tamanho exato para comportar nossas roupas, então cada um tinha a sua e foi bom. Apenas o sistema de fixação das malas não era confiável, o que nos fez reforçá-lo através de extensores (elásticos), o que foi bem chato.


O Saco estanque de 100 litros era enorme e nos induziu a enchê-lo ficando pesadão. Nele iam nossas mochilas, kit hotel (alguma comida, mini kit de produtos de higiene pessoal e lavanderia), presentes, encomendas, 1 par de tênis, as capas de chuva, fita adesiva e spray lubrificante de corrente.


Mala de tanque Foi uma ótima aquisição! Nela colocamos os lanches do dia, mapa de papel, acessórios de celular, o segundo kit de ferramentas, tudo o que era necessário ao longo de um dia de deslocamento ou de passeios. Legal que ela se converte em mochila, substituindo minha mochila de 22 litros que achei grande demais para os passeios que fizemos.


Tanque reserva de 5 litros foi um item obsoleto, usamos apenas uma vez, mas não foi realmente necessário.


Roupas e calçados: Levamos mais roupa de frio e acabamos comprando algumas peças para suportar o calor atípico da época em que viajamos. Lavamos roupas a cada 3 dias usando as lavadoras dos hotéis que não nos cobraram por isso. Roupas íntimas eram lavadas diariamente no chuveiro durante o banho. Senti que levei coisas demais: 8 partes de cima, 4 partes de baixo e 2 casacos, 3 conjuntos de meias e roupas íntimas e 2 pares de calçado, além da roupa de cordura. Usei tudo, mas nem tudo foi essencial. Gilson levou ainda menos que eu e teve a mesma percepção.


Remédios, cosméticos e produtos de higiene pessoal: Levamos embalagens travel size de shampoo, condicionador, sabonete, escova e pasta de dentes, desodorante, mini kit de maquiagem, os remédios do tratamento do Gilson. Os 3 primeiros foram desnecessários pois todos os lugares onde nos hospedamos ofereciam amenities e secador de cabelos.


Equipamento Fotográfico e Eletrônicos: Levamos uma câmera compacta Samsung ES73, que foi pouco usada, e um celular Samsung J7. Compramos um segundo celular Samsung J1 Mini pois Gilson não levou o dele e sentiu falta da independência que o aparelho lhe dava. Ainda levamos HD externo, muito útil. Os plugues brasileiros são compatíveis com as tomadas dos países visitados, adaptadores não são necessários.




BOA ACOLHIDA EM TODAS AS HOSPEDAGENS


Clique sobres as imagens para ampliar.

Foi previsão de despesas mais tranquila. Usamos sites de busca como booking.com e o hotéis.com para conhecer os valores das diárias. Planejamos diárias de até 60 euros por noite, mas com Gilson em tratamento médico, achei importante investir mais no conforto, assim a média das diárias foi de 76 euros. Ficamos em hotéis e pousadas de categoria equivalente a 3 estrelas, dando preferência por hospedagens de administração familiar e com garagem ou estacionamento e café da manhã incluídos no preço da diária. Houve apenas uma exceção: em Munique ficamos num hotel 4 estrelas.


Hospedagem garantida na chegada e na partida é fundamental. Nós tivemos a facilidade de ficar as primeiras 12 noites e os dois últimos dias com a família. No restante da estada viajamos sem reservas de hotel. Procurávamos hospedagem no final do dia ao chegar ao novo destino.


Usamos três estratégias diferentes:


  • No interior da Alemanha nos guiamos pelas plaquinhas reversíveis Zimmer Frei x Besetzt (quartos vagos x lotado) que os estabelecimentos colocam visíveis da rua. Há excelentes opções de hospedagem que não estão listadas em sites de busca como o booking.com ou hoteis.com.

  • Em Merano, na Itália, também havia essas plaquinhas, mas a pousada escolhida foi a partir de um enorme painel informativo instalado em frente à secretaria municipal de turismo.

  • No final da viagem, quando os percursos foram para retornar à Hamburg e passamos a dormir em cidades maiores, usamos o Booking.com filtrando os resultados por faixa de preço, menor preço para dois e estacionamento disponível.


No interior foi difícil ser bem atendido depois das 18h. Algumas dessas situações foram em pousadas cadastradas em sites como Booking.com e hoteis.com que estavam lotadas de estrangeiros e o staf parecia sobrecarregado. Onde não nos recepcionavam bem, íamos embora. Por duas vezes, mesmo cansados, desistimos no meio do processo e procuramos outro lugar. Valeu a pena! Todas as hospedagens escolhidas tinham algum diferencial que nos beneficiou. Não ficamos em hostels onde, no geral, as diárias para duas pessoas em quarto individual (condição do Gilson) eram muito parecidos com outras formas de hospedagem. Mas penso que o fato de haver cozinha disponível e possibilidade de lavar roupas permite uma economia razoável. No nosso, viajando a dois, garantimos essa economia com alimentação e não tivemos dificuldade com lavação de roupas.


Se você for viajar sozinho opte por hostels ou pousadas e hotéis de administração familiar, pois aí a lógica do valor das diárias é vantajosa para quem viaja sozinho, nelas paga-se o valor por pessoa e este costuma ser a metade do valor da diária do quarto ocupado por duas pessoas. Em hotéis de redes hoteleiras o valor da diária para uma pessoa costuma ser maior que 50% do valor cobrado pelo quarto ocupado por duas pessoas.



SAUDÁVEL, SABOROSO E ECONÔMICO


Clique sobres as imagens para ampliar.

Essa é a categoria mais difícil de prever os gastos porque depende muito do perfil do viajante. Nosso perfil alimentar é comedido e não gostamos de sobras. Ao contrário de Gilson, sou vegetariana em transição para o veganismo. Fazer essa transição numa região que tem a manteiga como base da alimentação foi bem difícil, pois no interior não havia alternativas veganas.


Na previsão de custos considerei 1 refeição quente por dia estimada em € 30,00 euros para dois e dobrei esse valor para cobrir as demais refeições. A alimentação acabou sendo a grande surpresa orçamentária! Desconsiderando os dias em que ficamos com a família, nos dias em que tivemos de arcar com todas as despesas gastamos com alimentação em média € 36 por dia. Atribuo essa economia à escolha por pratos vegetarianos, às compras em mercados e supermercados e ao fato de termos ficado mais tempo no interior.


Nossa alimentação seguiu o padrão:


  • O café da manhã era aquele oferecido no hotel, de onde sempre levávamos, cada um, um sanduíche extra.

  • Fazíamos 1 refeição quente por dia (almoço ou jantar). Os locais variavam bastante, comemos em buffets onde trabalhadores almoçam, em restaurantes de comida regional de lugares turísticos, em Biergarten e até em restaurante listado entre os melhores restaurantes alemães de 2018.

  • Vários lanchinhos ao longo do dia complementaram nossa alimentação com itens comprados em mercadinhos e supermercados, o que nos proporcionou um vislumbre muito interessante dos hábitos de consumo nos locais por onde passamos; ou nos postos de combustíveis, durante os deslocamentos. Não faltou água mineral, refrigerante, cerveja sem álcool, café, sorvete, chocolate, balinhas, frutas e o delicioso pão alemão. A cereja fresca nos acompanhou a todos os lugares.


O preço dos alimentos, tanto em restaurantes como no supermercado, é parecido com os praticados no Brasil. Gastávamos mais nos postos situados às auto-estradas e nas cidades maiores.



NAVEGAR É PRECISO...


Clique sobres as imagens para ampliar.


Para quem nos olhava de longe deve ter sido uma cena engraçada: o piloto seguindo os gestos do garupa. Gilson não gosta de usar GPS e, na falta de intercomunicadores, usei gestos adaptados do ciclismo para transmitir as orientações. Funcionou muito bem.


A navegação com celular e Googlemaps foi eficiente, a cobertura da rede de internet é muito boa e não pagamos roaming fora da Alemanha. O cuidado era de sempre manter o celular ligado no carregador instalado na moto pra não ficarmos sem bateria no meio de um trajeto, como aconteceu na Rota do Vale do Rio Tauber.


Tínhamos Prepaid SIM Card local com pacote de dados de internet (chip de celular pré-pago) não foi propriamente barato, mas recomendo. Cada um tinha o seu chip de celular com número de telefone da Alemanha e pacote de dados de internet. O meu O2 foi ativado na loja onde compramos e custou €10,00 e fiz uma recarga de €20,00 na metade da viagem. Gilson tinha um Aldi Talk comprado no supermercado Aldi, mas só podia ser ativado numa filial Aldi Süd ou por vídeo conferência e custou € 17,99.


Usamos googlemaps off-line para a navegação do nosso roteiro com mapas baixados no hotel antes de pegarmos a estrada. Procuramos lugares para comer, hotéis e usamos as redes sociais, mantendo contato com amigos e família nos dois países. Se nos perdêssemos um do outro poderíamos nos reencontrar com facilidade, isso deu a Gilson mais tranquilidade, porque ele não fala alemão.


Há um comportamento bem bacana de irmandade entre os motociclistas. Os alemães são pilotos exemplares e muito habilidosos, eles fluem pelas estradas e parecem dançar com elas. Os italianos pilotam de forma fragmentada, a staccato, se impõe e são ousados, principalmente nas estradas estreitas em que a ultrapassagem não é permitida, situação comum nos Alpes e nas cidades históricas. Os finlandeses são discretos, só se percebe a presença deles pelas placas, que indicam que estão muito longe de casa.



CAMINHOS E ESTRADAS VARIADOS

Clique sobres as imagens para ampliar.

O Via Michelin foi uma ferramenta excelente e fácil de usar para estimar as despesas com deslocamentos, somando custos de pedágios e combustível, foi bem realista.


O site ADAC (clube automotivo alemão) foi uma excelente fonte de informação sobre estradas, passos de montanha, previsão do tempo, regras de condução, e uma infinidade de dados reunidos no mesmo lugar. Percorremos algumas rotas cênicas sugeridas pelo site, como as de Altes Land nas proximidade de Hamburg, na Baviera e no trajeto ao Timmelsjoch/Passo Rombo, achei que valeu muito a pena. Os mapas digitais em PDF são bem detalhados, indicando rotas cênicas marcadas em cada região, e são gratuitos.

As estradas estaduais e locais oferecem as melhores paisagens, especialmente em Altes Land, nas montanhas de Sauerland, e por todos os Alpes. Adorei improvisar desvios por elas. Percorremos também algumas rotas turísticas oficiais e bem conhecidas, sinalizadas pelas placas marrons, como Liebliches Taubertal (Adorável Vale do Tauber), Romantische Straβe (Rota Romântica), Deutsche Alpestraβe (Estrada Alpina Alemã) e Timmelsjoch Hochalpenstraβe (Estrada Alpina do Passo Rombo).


A qualidade das estradas foi de boa a ótima. As melhores são as autoestradas na Alemanha, as menos conservadas estão na Itália, mesmo assim, satisfatórias. As autoestradas são ótimas e é um prazer transitar por elas, nós não esperávamos por isso, embora o esforço físico para andar em altas velocidades nos fez parar com frequência para descansar. A estrutura de apoio é excelente, não faltam postos de combustíveis e locais para comer, descansar ou usar o banheiro.


Por toda parte encontramos vigilância eletrônica que é rigorosa. A sinalização é um pouco diferente da nossa, mas com um pouco de atenção, é bem compreensível, consulte aqui.


Na Alemanha não há cobrança de pedágio. Na Áustria é preciso comprar a vinheta em postos de combustíveis para rodar em autoestradas. Na Itália as autoestradas também tem pedágio, mas a cobrança é feita em estações de pedágio nas próprias rodovias, como é no Brasil. Os pedágios do Timmelsjoch e Brennerpass, na minha interpretação, equivalem ao ingresso numa atração turística, valeram cada centavo.


O combustível mais barato foi na Áustria e aproveitamos o tanque reserva para levar um pouco mais e poupar alguns euros. Abastecemos sempre com o combustível mais caro (Super ou Super Plus). O valor do combustível oscilou entre €1,10 e €1,50 por litro.


Nos 28 dias de estada gastamos aproximadamente € 400 com deslocamento, somando custos com transporte público, combustível, estacionamento e pedágios.



ALIMENTO PARA ALMA E SENTIDOS


Clique sobres as imagens para ampliar.

O foco dessa viagem foram as paisagens urbanas e naturais por onde passamos, que são gratuitas. E foi Show! Alguns dos melhores momentos aconteceram ao acaso, alguns nasceram da adaptação do roteiro por conta das dificuldades que enfrentamos. Adaptações nessas regiões são relativamente simples, pois este é um dos pedaços da Europa onde você desvia de um lugar fantástico para cair em outro logo ao lado.


Para estimar os custos com os ingressos nas atrações usamos os sites oficiais dos lugares que queríamos visitar. Deixamos uma folga para outras que pudessem aparecer no trajeto e que não foram previstas. Foram poucos os pontos turísticos em que precisamos pagar ingresso. Os valores foram bem acessíveis, com exceção do teleférico para subir à plataforma Alpspix, na Baviera, mas o valor é perfeitamente justificável porque envolve segurança à vida dos usuários, e se comprovou eficiente quando enfrentamos a tempestade na descida de teleférico ao vale. Valeu cada centavo.



fonte: https://www.ideamerge.com/motoeuropa/roadsigns/

O QUE EU FARIA DIFERENTE?


Revisão antecipada da moto: Um fator que contribuiu para não conseguirmos cumprir o roteiro previsto foi o fato não termos feito a revisão na moto que estava planejada para os primeiros dias.


Iniciar o percurso bem cedo: Quanto mais tarde se começa o percurso tanto mais lentamente ele progride. Saímos tarde constantemente, isso me deixou irritada. Mas Gilson não estava na sua melhor forma de saúde, então deixei rolar.


Transporte da bagagem: Extensores não, por favor! Garantiria o funcionamento seguro do sistema de fixação das malas laterais e substituiria o saco estanque de 100 litros por uma alternativa sem extensores, e com volume menor. Extensores elásticos são úteis, mas cansam.


Presentes e lembranças: A compra de presentes para os filhos ao longo do roteiro foi impulsiva e rolou um certo arrependimento, mas eles gostaram. Também tínhamos os presentes recebidos das pessoas que conhecemos no caminho, eram frágeis e volumosos e ficamos tentados a abandoná-los no caminho, resistimos e os trouxemos até o final. Junto com as encomendas, pequenas e frágeis, formaram o peso morto que contribuiu para dificultar o processo de montagem e desmontagem da bagagem sobre a moto que nos cansou bastante. Melhor deixar para o destino final.


Encomendas: Tomam muito tempo! Um bom amigo evita sobrecarregar o outro fornecendo, ainda antes da viagem, especificações exatas da encomenda, o dinheiro em moeda local e o endereço da loja onde se pode comprar o objeto desejado, preferencialmente na cidade do destino final. Mas melhor mesmo é não encomendar nada a quem viaja, fica a dica.


Remédios: levaria colírio, antitérmico e relaxante muscular que uso normalmente. Achei que seria simples comprar por lá, mas não foi. Acabei comprando remédios alternativos e não gostei do efeito do analgésico.


Tanque extra: Não há necessidade de tanque extra nessa parte da Europa.


Equipamento fotográfico e eletrônicos: Sentimos falta de uma câmera Go-Pro para captar com qualidade e conforto os deslocamentos feitos nas rotas cênicas a partir da moto. Também senti falta de um tablet, que eu levaria no lugar do HD externo, mas conseguimos nos virar sem eles.


Caderno de anotações: Pode ser facilmente substituído pelo bloco de notas do celular.


Roupas: Na próxima viagem vou tentar reduzir tudo a no máximo 3 peças por categoria (casacos, partes de cima, partes de baixo, conjunto de roupas íntimas), já incluindo nessa relação a roupa de proteção para usar durante os trajetos de moto. É mais que suficiente.


Jogo de Talheres de acampamento: Senti falta de um conjunto para preparar sanduíche e cortar frutas.



O QUE DEU CERTO


Clique sobres as imagens para ampliar.


Objetivo: Seria de pensar que terminamos a viagem frustrados por não termos cumprido o roteiro, mas não foi o que aconteceu. Essa viagem era para restaurarmos nossas energias pessoais que estavam esgotadas e para desfrutarmos da companhia um do outro, o resultado foi melhor que o esperado!


Roteiro com contrastes: Alternar os cenários entre cidades modernas e cidades medievais, planícies pantanosas e paisagens alpinas, ambiente rural e ambiente urbano, autoestradas e trilhas rurais, potencializou o encantamento que nos acompanhou do início ao fim. Sou fã dessa forma de viajar e recomendo a experiência.


Adaptação: As coisas deram certo quando deram errado... Encaramos a adaptação às situações que se apresentavam como parte da viagem, isso fez uma diferença significativa na qualidade dos momentos, nas relações com as pessoas que encontramos e entre nós dois. Gilson encara adaptações com tranquilidade, já eu tenho mais dificuldade de aceitar alterações de planejamento, mas no final de cada dia a mudança se mostrou mais que acertada.


Interagir com as pessoas: eu sei, existe a barreira da língua. Ficou comigo a tarefa de comunicação, mas o interesse de Gilson fez muita diferença, criando situações bem bacanas com os nativos, apesar de ele não dominar a língua. Os alemães tem muita curiosidade pelo Brasil e por brasileiros. Já os austríacos e italianos são mais reservados e desconfiados. Nem sempre é preciso muito tempo, às vezes a interação acontece durante uma refeição em mesa compartilhada, ou ajudando um desconhecido a resolver algum problema.


Hospedagem: Viajando sem reservas de hotel tivemos sorte e lucidez. Em todas as hospedagens encontramos algum diferencial que nos favoreceu muito.


Prepaid SIM Card local: Usamos diariamente a internet num leque de tarefas amplo que facilitou muito nossos dias, incluindo a navegação da rota. Não foi propriamente barato, mas foi eficiente e recomendo.


Navegação: Considerando que Gilson não quis usar o GPS e que estávamos sem intercomunicadores, os gestos adaptados do ciclismo que combinamos em Hamburg e que eu transmitia ao piloto, funcionaram muito bem.


Capacetes e Roupas de cordura: Excelentes! Não quero outros!


Moto: É verdade que ela nos deu trabalho... Mas, posso dizer que ela nos cansou menos que cuidar da bagagem. É muito confortável, potente, suave, estável. Gostamos muito dela! Mais que um mero veículo, nos propiciou momentos lindos e alguns dos contatos mais interessantes que tivemos com outros viajantes, exatamente por ser diferente das demais, e mereceu ser batizada com um nome à altura. Gilson a deixou revisada e funcionando na sua performance ideal, o que nos motivou a querer voltar para fazer outra viagem.


Orçamento: A previsão orçamentária foi bem realista, incluindo uma margem de segurança para eventualidades. Levamos € 4.000 em dinheiro e um cartão de crédito com bandeira Visa habilitado para uso no exterior. Não usamos o cartão de crédito nenhuma vez porque a cotação do real estava oscilando muito e negativamente. Com exceção da hospedagem, respeitamos o limite diário de despesas previsto em cada categoria.


 

A Viagem em Números:



Configuração Geral:


  • 28 dias de férias

  • 12 dias com família

  • 16 dias on The Road

  • 3 países visitados

  • 7 estradas turísticas/cênicas

  • 15 regiões turísticas/paisagens marcantes

  • 8 bases de hospedagem

  • 9 cidades

  • 2 sítios classificados patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO

  • 5 Centros históricos

  • 9 parques naturais/jardins históricos

  • 8 museus/construções históricas


Deslocamento:

  • Duração da viagem com moto: 24 dias

  • Distância percorrida de moto: 3.507 km

  • Combustível consumido: 165,80 litros

  • maior distância percorrida em 1 dia: 395 km

  • menor altitude: 2 m (Hamburg)

  • maior altitude: 2.509 m (Timmelsjoch)


Despesas Essenciais:


  • Deslocamento € 364,15 (transporte público, combustível, pedágio, estacionamento)

  • Hospedagem € 1.137,00 (15 diárias)

  • Alimentação e higiene pessoal € 844,15 (restaurantes, Bierganten, bancas, supermercado, mercadinhos)

  • Ingressos € 134,40 (teleférico e termas estão incluídos aqui)

  • TOTAL € 2.479,70


Outras Despesas:


  • Moto, seguro e documentação: € 1.600,00

  • Peças e serviços para manutenção da moto: € 275,69

 

Continue a Leitura:

 

Posts recentes

Ver tudo
20180620_134954_edited.jpg
DEIXE SEU COMENTÁRIO
  • Instagram
SIGA-NOS NO INSTAGRAM
bottom of page